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terça-feira, 10 de abril de 2012

Viver. Vida.

“Tinha precisado promover 32 guerras e havia precisado violar todos os pactos com a morte e se revirar feito porco na pocilga da glória, para descobrir, com quase quarenta anos de atraso, os privilégios da simplicidade.”

Essa frase, que está no livro Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez, me fez pensar muito no que a simplicidade das coisas realmente importa em nossas vidas.

Hoje, quase quatro meses depois do acidente que me deixou entre a vida e a morte, ainda me sinto fragilizada em comentar sobre o que aconteceu. Os olhos enchem de lágrimas, as mãos ficam trêmulas e a fala meio gaga. Sequer havia conseguido escrever. Até mesmo a página branca do Word me assustava, mas agora não mais.

Não enxergo o que aconteceu como algo ruim, pelo contrário, me serviu pra muita coisa. Dificilmente passo por uma pessoa sem notar os olhos dela, sem perceber se tem um sorriso de alegria ou tristeza no rosto, se está de saco cheio daquele dia de trabalho ou, principalmente, se está precisando de uma ajudinha em algo simples.

Nada acontece por acaso, o risco está presente 24 horas por dia e nos restam duas escolhas quando isso acontece: enfrentar tudo que está por vir ou se entregar de vez. Hoje mesmo vi, por meio de uma fotografia, um amigo que passou por algo parecido e também luta pela sobrevivência. Aliás, já lutou. Isso me emocionou tanto e me impulsionou a enfrentar o branco da primeira página. Assim como ele enfrentou a primeira fotografia.

O que a vida nos fez passar, talvez tenha sido um resgate. Resgate de tudo o que é bom e não notávamos, resgate das pessoas que nos amavam e até mesmo do dia a dia, que andava rápido e eu ainda passava correndo, como diria o Cazuza.

Notei pessoas que me queriam bem sem pedir nada em troca, pessoas que me acompanharam e me mantiveram ali, viva pelo menos para elas, enquanto eu dormia no coma e tinha apenas 5% de chance de sobreviver. Não é a toa que meus sonhos eram tão bons, a energia positiva atravessava minha mente.

Percebi que o amor é um sentimento contagiante. A vontade das pessoas em me manter ligada com o que há de superior foi feita pelo amor e pela esperança. O Amor mantém esse contato com tudo. Com a vida, com próximo e com a felicidade.