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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sangue quente

Quando eu era criança, não botava muita fé naquela coisa de que "ninguém é velho se a alma for de espírito jovem". Achava isso uma baita sacanagem com os velhinhos que, muitas vezes, não mantinham vigor diário pelas diversas limitações físicas ou simplesmente gostavam de transparecer os reflexos da idade no comportamento ranzinza.

Coisa de criança observadora e pensativa, que confabula mil histórias com os mais variados desfechos na mente fértil. Agora percebo que o que realmente faz o humor, estilo de vida e o que traz a felicidade de alguém está dentro de cada um mesmo, independente da idade, história ou condições gerais.

Hoje, a prova viva de tudo isso pra mim, minha avó materna, Franscisca Morales, completa 80 anos de idade. 80 anos de amor aos que a cercam, de luta por uma vida melhor, de luta pela própria vida.

Esses dias, numa tarde qualquer, ela me disse: "Queria estar viva para te ver formada na faculdade. Agora que isso aconteceu vou ficar viva para ver um netinho seu correndo por ai". Linda.

Fernando Pessoa dizia que não enxergava os bons pela pele, mas pela pupila que brilha. Quando dizia isso, a da minha avó estava sim com um brilho questionador e uma tonalidade inquietante, aquilo que me dá total segurança em acreditar que tudo sempre dará certo.

Minha espanholinha nata, de sangue quente, capaz de fervilhar os dedos das mãozinhas já enrugadas, mas sempre macias e acolhedoras, assim como o olhar e o coração.

Descobri o que é amor de verdade com você. E sua companhia me faz enxergar a vida florida e tão bonita como tem que ser. Aliás, não te chamo de mãe a toa né? Parabéns, minha linda. Vou estar ao seu lado sempre, para o que der e vier. Pode ser que nem tão firme, mas sempre forte, assim como você me ensinou.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Viver. Vida.

“Tinha precisado promover 32 guerras e havia precisado violar todos os pactos com a morte e se revirar feito porco na pocilga da glória, para descobrir, com quase quarenta anos de atraso, os privilégios da simplicidade.”

Essa frase, que está no livro Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez, me fez pensar muito no que a simplicidade das coisas realmente importa em nossas vidas.

Hoje, quase quatro meses depois do acidente que me deixou entre a vida e a morte, ainda me sinto fragilizada em comentar sobre o que aconteceu. Os olhos enchem de lágrimas, as mãos ficam trêmulas e a fala meio gaga. Sequer havia conseguido escrever. Até mesmo a página branca do Word me assustava, mas agora não mais.

Não enxergo o que aconteceu como algo ruim, pelo contrário, me serviu pra muita coisa. Dificilmente passo por uma pessoa sem notar os olhos dela, sem perceber se tem um sorriso de alegria ou tristeza no rosto, se está de saco cheio daquele dia de trabalho ou, principalmente, se está precisando de uma ajudinha em algo simples.

Nada acontece por acaso, o risco está presente 24 horas por dia e nos restam duas escolhas quando isso acontece: enfrentar tudo que está por vir ou se entregar de vez. Hoje mesmo vi, por meio de uma fotografia, um amigo que passou por algo parecido e também luta pela sobrevivência. Aliás, já lutou. Isso me emocionou tanto e me impulsionou a enfrentar o branco da primeira página. Assim como ele enfrentou a primeira fotografia.

O que a vida nos fez passar, talvez tenha sido um resgate. Resgate de tudo o que é bom e não notávamos, resgate das pessoas que nos amavam e até mesmo do dia a dia, que andava rápido e eu ainda passava correndo, como diria o Cazuza.

Notei pessoas que me queriam bem sem pedir nada em troca, pessoas que me acompanharam e me mantiveram ali, viva pelo menos para elas, enquanto eu dormia no coma e tinha apenas 5% de chance de sobreviver. Não é a toa que meus sonhos eram tão bons, a energia positiva atravessava minha mente.

Percebi que o amor é um sentimento contagiante. A vontade das pessoas em me manter ligada com o que há de superior foi feita pelo amor e pela esperança. O Amor mantém esse contato com tudo. Com a vida, com próximo e com a felicidade.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Situação limite

Situação limite.
É aquele tipo de coisa que acumula, acumula e acumula até a hora em que toda a meleca explode e suja até a dona Joana, que só estava atravessando a rua na hora errada e não tinha nada a ver com os problemas da jovem inquieta que mora ao lado.

Foi assim. Notei que minhas energias estavam concentradas em resolver os problemas alheios, mas nunca os meus. É verdade, elas estavam no modo automático e eu já não conseguia me impor como antes. Percebi, então, que algum botão havia quebrado.

Como todo bom brasileiro, Macunaíma fervoroso, parei para consertar quando já não tinha mais conserto. Só um novo poderia me fazer voltar às atividades.

Então resolvi parar e pensar – atitude que o botão no automático se encarregava de realizar ultimamente. Nesse tempo reparei que meu saco estava bem cheio, situação limite que ocasionou toda a bagunça da explosão.

Já havia parado com a dança para trabalhar, com o francês para dar atenção ao namorado, com as saídas noturnas para fazer frilas e com todo o restante que gostava de fazer para me basear no politicamente correto. Aquilo que é tão bonito aos olhos dos outros, mas que te atrofia por dentro.

Como o troco de todo ser manipulado é o mesmo, comigo não foi diferente. Estava cabisbaixa, emagrecendo, empalidecendo e amarelando.

Ou seja, bela bosta, né? De que me adianta ter a maior janela se não estou em casa para apreciar o pôr do sol? De que me adianta ter um belo pássaro na mão se a beleza está no bater das asas?

Foi aí que percebi que estava andando certo por linhas tortas, ou vice versa, estava parada na mesma. Larguei tudo. Tudo mesmo. Sem dó nem piedade.

Dei tchau pro meu chefe e fui pra montanha. Mandei o namorado ir (por gentileza) à merda e soltei o clichê “antes só do que mal acompanhada”. E o melhor de tudo: enchi a mão e dei um tapa bem gostoso na cara daquela sociedade sufocante, hipócrita e antiquada.

É... Aquela roupa já não me servia mais.

O necessário pode se resumir ao afeto, à amizade, ao respiro, a um milhão de coisas. Mas a verdadeira base que precisamos na vida está na LIBERDADE.

E agora, com que roupa eu vou?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Aguardando o mingau...

Nada como uma aventura para despertar o cérebro a alguma emoção. É como óleo para o motor da vida, que, vez ou outra, quando abastecido regularmente, não traz imprevistos indesejados.

Se resume ao típico conselho de avó, “Não evita o inevitável, porque mais tarde vem com tudo”. E ai está mais uma lição que tive de aprender sozinha e involuntariamente por não seguir a invejável sabedoria anciã.

Ilhada em alguns problemas, nervosismo e correria acabo esquecendo de manter a cartilha do óleo em dia e, por conta desse hábito desleixado, os motores travam hora ou outra.

Para falar a mais pura e simples verdade, sempre foi assim. E para tornar meu discurso ainda mais sincero, por enquanto, não enxergo mudanças em longo prazo que possam mudar essa estúpida mania. Mesmo assim, sabendo que não tenho controle ante a situação maniática, busco formas de trazer sossego para meus pensamentos, que passeiam alheios em minha cabeça há bastante tempo, e me parece que nem pertencem à mesma pessoa, mesma mente, tal o grau de distinção entre cada um.

Mas, enfim, pra que gastar o fôlego tentando esfriar o mingau se, cedo ou tarde, o destino tomará conta do ato?

Deixe os pensamentos voarem.
Tenha paciência. Espere o mingau esfriar por conta própria.
E, por fim, tente aceitar-se da maneira que é. Só assim a redenção será completa.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mascote


Há algumas semanas recebi um presente do meu primo que mora em Itatiba.
Ao abrir o pacote enxerguei um patuá com tudo que lhe é direito: trevo de quatro folhas, pimenta, figas, olho grego e por ai vai.

Diferente do que imaginava, o presente não foi por conta do meu aniversário, mas pelo meu novo emprego. Nas crenças de meu primo, o patuá me livrará de todas as energias ruins que me cercarem daqui em diante, esteja onde eu estiver.

Embora eu não acredite na simbologia do objeto, amei a gargantilha somente pela sinceridade de sua chegada. "Foi com muito amor que escolhi", disse o marmanjo de 38 anos, frase que valeria qualquer presente.

Contudo, o amor e esperança dele em relação à minha carreira (coitado) despertaram algumas ideias. É incrível a forma como as pessoas se ancoram em certas crenças para tornar real um sonho. Seja nas orações, promessas, objetos ou simpatias. Sentimentos que transmitam alguma garantia de que vai dar certo tem de estar presentes.

Acredito que meu primo tenha alcançado tudo o que sempre valorizou: o amor em família e estabilidade. Ele nunca foi religioso, mas sempre acreditou em sorte, em destino e em todas as coisas que despertassem algum sentimento real baseado no desejo.

Desde então notei que o verdadeiro pregador entre pessoas e crenças é a vontade.
É a partir dela que começa qualquer tipo de realização...

Está ai meu patuá. Vou usar. Tomara que toda essa simbologia entre em atividade rotineira mesmo...

Patuá ou Talismã: Aqui se atribui virtude sobrenatural; amuleto; encanto; também se conhece pelo nome popular de mascote.

domingo, 12 de setembro de 2010

Partida de futebol

Fiquei pensando em mil formas de postar algo sobre o dia de hoje. Percebi que ainda não encontrei a maneira correta para transformar a sensação em palavras, mas tudo bem, vou tentar.

Por conta da reportagem especial da faculdade, eu e meu grupo fomos para mais um dia de gravações. Desta vez no estádio do Pacaembu, que corre risco de extinção por uma série de fatores. Tudo bem, tudo bem. Os corinthianos podem me julgar por eu ter traído meu time do coração ao tirar a virgindade de estádios bem no jogo do Palmeiras, mas uma coisa percebi: o amor pelo futebol é tão universal,  que independe de times ou torcidas organizadas. Todos estão lá pela bola rolando e os gols que estão por vir.

A paixão é tanta que a idade é o que menos importa. Você vê crianças, adultos, adolescentes e idosos (meus preferidos). Todos unidos e cantando músicas de devoção. Acho incrível a maneira como todos se amam nessas situações. As diferenças, problemas ou qualquer sentimento negativo são esquecidos. O futebol realmente move montanhas para essas pessoas.

A bola em jogo e o torcedor ansioso. A melhor forma de sentir ansiedade talvez seja essa, porque ao assistir o show da equipe ninguém espera o pior, e no fim o que realmente importa é estar presente e vibrar na alegria ou na tristeza.

É verdade. É uma espécie de casamento. Aliás, nunca vi amor tão fiel. São poucas as pessoas que conheço que trocaram de time na vida - e as que fizeram pouco sabem sobre o tema - e eu realmente entendo isso como um divórcio.

Esse tipo de amor é aquele cultivado desde criança, seja pela família, pela televisão ou pelos ídolos. Uma vez plantada, essa semente cresce e cria raízes que expandem gerações. Podem notar, a maior parte das famílias torcem para um único time. Os pais fazem questão de levar os filhos aos estádios e os avôs acompanham, com direito a pipoca, churros, refrigerante, salgadinho e amendoim. (Porque criança só sabe comer lá, hoje pude notar).

O nosso entrevistado de hoje, Mauro Beting, lembrava o dia em que foi pela primeira vez ao estádio, nos anos 70. Era fim de expediente (ele também é jornalista e deve trabalhar pra cacete), estava cansado e mesmo assim deu alguns minutos de atenção para nós. A atenção se estendeu e o cansaço foi embora quando tocou no assunto do Pacaembu. Pude perceber que chorava por dentro só de pensar que o estádio que tanto ama pode não existir mais. Entre metáforas e bucolismo ele relembrou a trajetória que o faz um dos melhores jornalistas esportivos de hoje. É muito amor.

Agora, meu timão, vou assistir um jogo seu. Prometo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dona Flor

A beleza está nos olhos de quem vê. Ou pelo menos de quem sabe enxergá-la, não é verdade?
Dona Neusa andava pelas ruas do Bom Retiro sem pretensão alguma, com toda a serenidade peculiar de seus oitenta e poucos anos, muito bem vividos por sinal. Os passos lentos marcavam o chão como se fossem toques de pétalas, as quais seriam levemente rosadas se literais.
Em meio a tantas pessoas alvoroçadas pela rotina - e os loucos por sua consequência - o caminhar da senhora despertou minha atenção e a de alguns colegas em um dia de filmagens para nosso documentário acadêmico.
" Essas pessoas passam e nem te olham. Pior que isso, querem passar por cima de você, sem pedir licença alguma", se indignou.
Claro que me virei para reparar na dona de voz trêmula, e quando o fiz, notei uma pureza semelhante a da criança que ainda não teve a (in)felicidade de conhecer o mundo.
A verdade é que todas as décadas vividas por dona Neusa não lhe renderam uma explicação sensata sobre o mundo e as pessoas que nele vivem. Mesmo assim, a esperança cansada na humanidade ainda brotava no fundo de seus olhos, clareados pela idade (ou talvez pelas imagens que já viram).
A conversa se desenrolou com facilidade. É fácil se interessar pela vida de quem ama viver. Assim dá vontade de viver também.
Meu encontro com dona Neusa já faz quatro dias e eu ainda não parei de pensar em sua doçura. Havia mais confeitaria nela do que em qualquer doceria da cidade. O cabelo branco, as bochechas avermelhadas pelo rouge e o óculos de grau combinavam perfeitamente com as sacolinhas, os passinhos e o lindo dia que fazia.
Espero revê-la em breve.

ps - A propósito, a minha vó adorou seu presente. Acho que vocês sabem muito de todas as coisas.