Quando eu era criança, não botava muita fé naquela coisa de que
"ninguém é velho se a alma for de espírito jovem". Achava isso uma
baita sacanagem com os velhinhos que, muitas vezes, não mantinham vigor diário pelas
diversas limitações físicas ou simplesmente gostavam de transparecer os
reflexos da idade no comportamento ranzinza.
Coisa de criança observadora e pensativa, que confabula mil histórias
com os mais variados desfechos na mente fértil. Agora percebo que o que
realmente faz o humor, estilo de vida e o que traz a felicidade de alguém está
dentro de cada um mesmo, independente da idade, história ou condições
gerais.
Hoje, a prova viva de tudo isso pra mim, minha avó materna, Franscisca
Morales, completa 80 anos de idade. 80 anos de amor aos que a cercam, de luta
por uma vida melhor, de luta pela própria vida.
Esses dias, numa tarde qualquer, ela me disse: "Queria estar viva
para te ver formada na faculdade. Agora que isso aconteceu vou ficar viva para ver um netinho seu
correndo por ai". Linda.
Fernando Pessoa dizia que não enxergava os bons pela pele, mas pela
pupila que brilha. Quando dizia isso, a da minha avó estava sim com um brilho questionador e
uma tonalidade inquietante, aquilo que me dá total segurança em acreditar
que tudo sempre dará certo.
Minha espanholinha nata, de sangue quente, capaz de fervilhar os dedos
das mãozinhas já enrugadas, mas sempre macias e acolhedoras, assim como o olhar
e o coração.