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domingo, 12 de setembro de 2010

Partida de futebol

Fiquei pensando em mil formas de postar algo sobre o dia de hoje. Percebi que ainda não encontrei a maneira correta para transformar a sensação em palavras, mas tudo bem, vou tentar.

Por conta da reportagem especial da faculdade, eu e meu grupo fomos para mais um dia de gravações. Desta vez no estádio do Pacaembu, que corre risco de extinção por uma série de fatores. Tudo bem, tudo bem. Os corinthianos podem me julgar por eu ter traído meu time do coração ao tirar a virgindade de estádios bem no jogo do Palmeiras, mas uma coisa percebi: o amor pelo futebol é tão universal,  que independe de times ou torcidas organizadas. Todos estão lá pela bola rolando e os gols que estão por vir.

A paixão é tanta que a idade é o que menos importa. Você vê crianças, adultos, adolescentes e idosos (meus preferidos). Todos unidos e cantando músicas de devoção. Acho incrível a maneira como todos se amam nessas situações. As diferenças, problemas ou qualquer sentimento negativo são esquecidos. O futebol realmente move montanhas para essas pessoas.

A bola em jogo e o torcedor ansioso. A melhor forma de sentir ansiedade talvez seja essa, porque ao assistir o show da equipe ninguém espera o pior, e no fim o que realmente importa é estar presente e vibrar na alegria ou na tristeza.

É verdade. É uma espécie de casamento. Aliás, nunca vi amor tão fiel. São poucas as pessoas que conheço que trocaram de time na vida - e as que fizeram pouco sabem sobre o tema - e eu realmente entendo isso como um divórcio.

Esse tipo de amor é aquele cultivado desde criança, seja pela família, pela televisão ou pelos ídolos. Uma vez plantada, essa semente cresce e cria raízes que expandem gerações. Podem notar, a maior parte das famílias torcem para um único time. Os pais fazem questão de levar os filhos aos estádios e os avôs acompanham, com direito a pipoca, churros, refrigerante, salgadinho e amendoim. (Porque criança só sabe comer lá, hoje pude notar).

O nosso entrevistado de hoje, Mauro Beting, lembrava o dia em que foi pela primeira vez ao estádio, nos anos 70. Era fim de expediente (ele também é jornalista e deve trabalhar pra cacete), estava cansado e mesmo assim deu alguns minutos de atenção para nós. A atenção se estendeu e o cansaço foi embora quando tocou no assunto do Pacaembu. Pude perceber que chorava por dentro só de pensar que o estádio que tanto ama pode não existir mais. Entre metáforas e bucolismo ele relembrou a trajetória que o faz um dos melhores jornalistas esportivos de hoje. É muito amor.

Agora, meu timão, vou assistir um jogo seu. Prometo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dona Flor

A beleza está nos olhos de quem vê. Ou pelo menos de quem sabe enxergá-la, não é verdade?
Dona Neusa andava pelas ruas do Bom Retiro sem pretensão alguma, com toda a serenidade peculiar de seus oitenta e poucos anos, muito bem vividos por sinal. Os passos lentos marcavam o chão como se fossem toques de pétalas, as quais seriam levemente rosadas se literais.
Em meio a tantas pessoas alvoroçadas pela rotina - e os loucos por sua consequência - o caminhar da senhora despertou minha atenção e a de alguns colegas em um dia de filmagens para nosso documentário acadêmico.
" Essas pessoas passam e nem te olham. Pior que isso, querem passar por cima de você, sem pedir licença alguma", se indignou.
Claro que me virei para reparar na dona de voz trêmula, e quando o fiz, notei uma pureza semelhante a da criança que ainda não teve a (in)felicidade de conhecer o mundo.
A verdade é que todas as décadas vividas por dona Neusa não lhe renderam uma explicação sensata sobre o mundo e as pessoas que nele vivem. Mesmo assim, a esperança cansada na humanidade ainda brotava no fundo de seus olhos, clareados pela idade (ou talvez pelas imagens que já viram).
A conversa se desenrolou com facilidade. É fácil se interessar pela vida de quem ama viver. Assim dá vontade de viver também.
Meu encontro com dona Neusa já faz quatro dias e eu ainda não parei de pensar em sua doçura. Havia mais confeitaria nela do que em qualquer doceria da cidade. O cabelo branco, as bochechas avermelhadas pelo rouge e o óculos de grau combinavam perfeitamente com as sacolinhas, os passinhos e o lindo dia que fazia.
Espero revê-la em breve.

ps - A propósito, a minha vó adorou seu presente. Acho que vocês sabem muito de todas as coisas.

domingo, 5 de setembro de 2010

Passo a frente no grau de separação

A verdade é que todo mundo está pouco se importando com você. Com o que pensa, o que faz, aonde vai e com quem. Pouco se importam se está triste, feliz, irritado, satisfeito ou melancólico. (A não ser o seu gato, se é que você tem um).

Outro dia escutei de alguém “Se sente triste assim por quê? Te ver chorar é ruim e a culpa não foi sua, não é você que deveria chorar.”

Ok. Nenhum homem gosta de ver mulher aos prantos. Pelo menos é o que eles dizem às que querem comer, porque quando têm a chance de demonstrar qualquer porra de sentimento legal com gestos e atitudes, mesmo que simples, o que eles fazem – como profissionais – é derramar lágrimas (nossas, óbvio).

Já vi muita gente sofrer por amor. É o assunto clichê, em pauta desde mil novecentos e bolinha, desde sempre e para sempre. Ninguém está imune. Por isso mudei meus conceitos sobre o tema há uns cinco anos, quando empedrei meu coração pela primeira vez após uma puta desilusão. O problema é que é difícil, a recaída vem e a pedra cardiovascular se desfaz, entende.

Colocar o coração no bolso e deixá-lo bem longe da mente sempre foi meu forte, e quando resolvo diminuir a quase zero esse grau de separação é batata, a merda está feita e eu me fodo. Nós nos fodemos. E acredito que vocês homens também. Todos temos um cérebro pensante e um coração quente, a combinação perfeita para sofrer. Mas a predisposição a estragar tudo e sentirem-se bem, normalmente é só de vocês.

E no final das contas, a mulher que age de forma semelhante é a vagabunda da praça. Não pelo fato de dar pra todo mundo, mas por não se importar nem um pouco com o efeito das atitudes que toma, e isso incomoda, né? É, eu sei.

Pura bobagem. Nada que uma garrafa de vodka não resolva. É como dizem: só sofre por amor quem não tem dinheiro para beber.